Recém-nascida internada na UTI após banho em maternidade no Acre é transferida para Minas Gerais
25/06/2025
(Foto: Reprodução) Aurora Maria Oliveira Mesquita foi transferida de UTI aérea para o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, na tarde desta quarta-feira (25). Ela apresentou bolhas e teve a pele das pernas e dos pés descolada após um banho na maternidade de Cruzeiro do Sul. Recém-nascida é transferida para hospital especializado em queimados
A pequena Aurora Maria Oliveira Mesquita, internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após tomar banho no Hospital da Mulher e da Criança Irmã Maria Inete, em Cruzeiro do Sul, foi transferida de UTI aérea para o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, Minas Gerais, na tarde desta quarta-feira (25).
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👉 Contexto: O pai da menina, Marcos Silva Oliveira, registrou um boletim de ocorrência contra o hospital pelos ferimentos que, segundo ele, foram causados em Aurora após o uso de água quente no banho. Na segunda-feira (23), ela foi transferida para Rio Branco devido à gravidade do quadro. O Ministério Público do Acre (MP-AC) investiga o caso.
A informação foi confirmada pelo secretário de Saúde do Acre, Pedro Pascoal. O Hospital João XXIII é considerado pela Sociedade Brasileira de Queimados um dos melhores centros de tratamento de queimaduras do país.
Aurora apresentou bolhas e teve a pele das pernas e dos pés descolada após um banho na maternidade de Cruzeiro do Sul no último domingo (22). (Veja o vídeo mais abaixo).
Bebê é levada de UTI aérea para Minas Gerais
Lucas Thadeu/Rede Amazônica Acre
"Hospital João XXIII é o mesmo que recebeu as nossas vítimas de uma explosão de um barco em Cruzeiro do Sul em 2019 e agora receberá a pequena Aurora para que tenham o máximo de suporte para que retorne aos braços de seus pais o quanto antes", explicou o secretário.
Uma ambulância de suporte avançado faz o transporte da recém-nascida da Maternidade Bárbara Heliodora para o aeroporto de Rio Branco. Apenas a mãe e a equipe médica foram no voo da tarde desta quarta.
O pai da bebê, Marcos Silva Oliveira, irá para Belo Horizonte em outro voo, ainda nesta quarta, conforme a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre).
Pele da perna e pés da bebê saíram do corpo; caso ocorreu em Cruzeiro do Sul no domingo (22)
Arquivo pessoal
Tratativas
Na terça (24), a Sesacre começou a fazer contato com unidades especializadas em queimados do país para conseguir um leito para a recém-nascida. Foi feito contato com três unidades especializadas: de Manaus, Brasília, onde há um centro de queimados pediátrico, e no Rio de Janeiro.
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"O Estado vem prestando todo apoio psicológico aos familiares. O quadro da Aurora é delicado, de pronto, preferimos transferi-la para a capital, onde recebeu todo tratamento, antibióticos e tudo que fosse necessário para estabilização do seu quadro. Devido à complexidade a situação, optamos por transferir ela novamente para um centro de referência a queimados", destacou Pascoal.
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Servidora afastada
Já na noite dessa terça, a Sesacre divulgou que a servidora filmada dando banho na recém-nascida foi afastada do cargo e aberto um procedimento administrativo disciplinar para apuração dos fatos.
"O procedimento inclui afastar de forma preventiva a profissional. O procedimento é rápido, vamos ouvir a profissional e fazer todos os trâmites necessários", resumiu.
O Instituto de Genética do Norte (IGENN), em Rio Branco, coletou o material para biópsia, que deve ser feita em outro estado para revelar o que causou a queimadura na bebê.
Transferência foi feita em uma UTI aérea nesta quarta-feira (25)
Lucas Thadeu/Rede Amazônica Acre
'Estou sem chão'
Em conversa com o g1, Marcos Silva Oliveira contou que, na noite de segunda-feira (23), a filha apresentou piora, mas amanheceu melhor com batimentos cardíacos e saturação estáveis.
Mesmo com a melhora, Aurora continuou entubada por decisão médica, para evitar dor e mantê-la mais calma. "Estava com pouca temperatura do corpo, ofegante e a medicação é muito forte. Teve uma hora que elas deram um remédio e ela sentiu muito. Ficou sem fôlego e roxinha, mas aí conseguiram dar um remédio e voltou ao normal", afirmou ele.
Segundo Marcos, nenhum especialista em queimaduras avaliou a filha em Rio Branco, o que considera essencial, pois a família acredita que o caso pode ter sido provocado por queimadura.
"Eu queria um especialista em queimaduras para examinar a minha filha, porque estão achando que pode ser essa doença [epidermólise bolhosa], querem fazer exames só para isso, e estão esquecendo que pode ser queimadura. Estou sem chão aqui. A minha filha está aqui por conta de negligência", disse ele.
Nascimento
Marcos, que é pai de outra menina de 7 anos, relatou que Aurora nasceu de parto normal e, até o momento do banho, nada de incomum tinha sido observado.
"A mãe dela começou a sentir contração era 1h30 da madrugada [de sábado, 21], a bolsa estourou, a gente arrumou as coisinhas e chegamos na maternidade, era umas 5h. Fiz a ficha na administração, o médico olhou e ela estava com 6 cm de dilatação e quando foi 8h ela teve a neném normal", explicou.
Segundo ele, um dia depois [domingo, 22], os médicos examinaram tanto a criança quanto a mãe e as duas receberam alta.
"A pediatra tirou a roupinha dela, virou de lado, viu as perninhas dela, olhou ela toda normal. Aí deu alta pra nós. Disse: 'você já vão ser liberados'. A mãe dela quis esperar o primeiro banhozinho da criança na maternidade e foi aí que aconteceu essa fatalidade. É difícil", lamentou.
Ainda no domingo (22), o secretário Pedro Pascoal se manifestou nas redes sociais e informou que a situação é investigada.
VÍDEO: Secretário de saúde do Acre diz que situação de bebê será investigada
MP apura caso
O Ministério Público do Acre (MP-AC) informou, na segunda (23), que foi instaurada uma notícia de fato para apurar o caso que é acompanhado pela Promotoria de Justiça Cível de Cruzeiro do Sul.
"Considerando a gravidade da situação e a necessidade de esclarecimento dos fatos, o promotor de Justiça André Pinho expediu notificações ao Hospital da Mulher e da Criança do Juruá e à Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), solicitando informações detalhadas sobre o caso", falou o órgão.
O MP requisitou ainda:
prontuário médico completo da recém-nascida, incluindo registros de enfermagem e identificação de todos os profissionais envolvidos no atendimento;
protocolos operacionais adotados para o banho e higienização de recém-nascidos, com especificação dos controles de temperatura da água e equipamentos utilizados;
um relatório circunstanciado com a sequência dos fatos, medidas assistenciais adotadas e providências administrativas tomadas pela direção da unidade.
“A eventual existência de doença congênita ou dermatológica não justifica a ausência de tratamento adequado; pelo contrário, impõe ainda maior zelo da equipe médica e do poder público, diante da maior vulnerabilidade da criança e da complexidade potencial do quadro”, complementou a promotora Aretuza de Almeida Cruz.
Colaborou o repórter Lucas Thadeu, da Rede Amazônica Acre.
VÍDEOS: g1
Instituto de Genética do Norte (IGENN), em